Incrementando

#154A armadilha dos indicadores.

A armadilha dos indicadores.

HUMANIZAR NÚMEROS PARA VIVER A ABUNDÂNCIA DA NOVA ECONOMIA.

Nesses dias estava em uma reunião de resultados de um cliente, quando um dos gestores comentou como é relativamente fácil cair na: armadilha dos indicadores. Para isto, basta estabelecer índices sem um cuidado sistêmico. A conversa era sobre os desafios relacionados à gestão da NCG (Necessidade de Capital de Giro), mais especificamente sobre as dificuldades em coordenar compras, fluxo de caixa, estoques adequados e equilíbrio fiscal. A questão é que, visando manter o dinheiro mais tempo no caixa da empresa, normalmente são definidos indicadores e desafios para uma logística que mantenha o almoxarifado o mais enxuto possível. Porém, há situações que, se as decisões forem tomadas sob essa única perspectiva, podem provocar um efeito exatamente contrário. Como?

 

Vamos imaginar, por exemplo, uma circunstância onde, para cumprir a programação da produção, surja a necessidade de adquirir matérias-primas que cheguem na empresa no primeiro ou segundo dia do mês. Nada mais lógico que o responsável, orientado para manter o prazo médio de estocagem o menor possível, espere até o limite para efetuar a compra. No entanto, nesse caso talvez fosse mais interessante antecipar a chegada do material para o último dia do mês anterior. Explico melhor.

 

Levando em conta que normalmente os fornecedores concedem trinta dias de prazo de pagamento, então a compra se fosse realizada de forma antecipada, seria paga, por exemplo, no dia 30/10 e não no dia 02/11. Mas, por outro lado, o crédito para minimizar os pagamentos dos impostos poderia ser aproveitado no dia 20/10 e não em 20/11. Ou seja, se a compra não fosse adiantada, o fornecedor seria pago antes do aproveitamento do crédito. O que vale mais a pena? 

Na verdade, não há uma resposta única para todas as situações. O importante é que a pessoa que for decidir tenha ferramentas que auxiliem a enxergar a situação de modo sistêmico. 

Nesse caso, além do índice de estoque, também são importantes os indicadores de impostos e a visão do fluxo de caixa.

 

Tem um outro exemplo que já até escrevi em outra edição do INCREMENTANDO, que ilustra muito bem essa armadilha dos indicadores. Antes de ingressar na consultoria, eu fiz um estágio numa indústria automobilística, e me recordo que um dos principais indicadores que norteava as decisões dos gestores, era a quantidade de veículos produzidos por dia. Em função disso os esforços eram para cada vez mais aumentar o volume da produção diária. Porém, não havia demanda suficiente, e os carros ficavam “parados” nos pátios. E, como consequência, montadoras e concessionárias promoviam os famosos feirões, baixando preços e sacrificando margens.

 

Esses dois casos reais ilustram os cuidados que precisam ser tomados no processo de definição de indicadores em uma empresa. Eu sempre recomendo não exagerar na quantidade de índices, pois as pessoas acabam se perdendo em meio ao emaranhado de números, e não conseguindo enxergar   o que é relevante e vital. Mas, por outro lado uma quantia muito reduzida também não é o ideal, exatamente por causa desses exemplos.

 

 

Tem um assunto que venho insistindo aqui nesses boletins, os negócios vêm aprendendo a cuidar melhor da lucratividade, e consequentemente melhorando os indicadores relacionados a esse tema. No entanto, eu vejo uma evolução muito pequena, para não dizer nenhuma no que diz respeito ao caixa. Enfim, para não cair na armadilha dos números, é preciso de muito critério na escolha do conjunto de índices que vão nortear as decisões das pessoas. Um grupo de indicadores equilibrados e sistêmico. 

 

Marcelo Simões Souza